sábado, 13 de julho de 2019

[Resenha] Peter Pan - J. M. Barrie


Peter Pan e Wendy
Não é surpresa para ninguém que Peter Pan é um clássico. Não só da literatura; quem nunca viu aquele filme de 2003 e disse, numa brincadeira entre amigos, que deixaria a janela aberta para o menino que não queria crescer?! Depois de muito tempo que descobri a tradução da Ana Maria Machado, autora que admiro bastante por todo seu trabalho com a literatura infantil, então finalmente pude conhecer a história de J. M. Barrie além do que minha imaginação já tinha memorizado do filme. Vem comigo nessa aventura?



Sinopse:
Estranhas folhas de árvore no chão do quarto das crianças, um menino, vestido de folhas e de limo, que aparece subitamente... Bem que a intuição da senhora Darlin lhe dizia que algo estava para acontecer. Logo, seus filhos estariam envolvidos numa incrível viagem à Terra do Nunca, onde os adultos não entram e de onde muitas crianças não voltam jamais!
Título original: Peter Pan
Autor: J. M. Barrie
Editora: Salamandra
Páginas: 256



Resenha:

Todo mundo já sabe a história: "Todas as crianças crescem - menos uma". Falar de Peter Pan, assim como da Terra do Nunca, é algo comum quando se trata do imaginário das crianças (e aqui não falo somente do nosso tempo, mas já entrando no livro, ok?), tanto que a mãe de Wendy não se surpreende com as menções dela ao menino, pois também já foi criança um dia...

"Lembrou de um certo Peter Pan que, diziam, vivia com as fadas. Havia umas histórias esquisitas sobre ele. Como a que contava que quando uma criança morre, ele a acompanha durante parte do caminho, para que ela não se assuste". 

O problema do Sr. e Sra. Darlin é que, certa noite, Peter perdeu sua sombra por lá, no número 14. Depois que Wendy, muito gentil, o ajudou a costurá-la de volta, ele ensinou os três irmãos - Wendy, João e Miguel - a voarem, deixando a imaginação e a realidade misturadas demais. Naná, a cachorra-babá, bem que tentou ajudar, mas não adiantou muito... e foram à ilha dos meninos perdidos, dos índios e piratas.

As aventuras que passam juntos no livro, no geral é bem a sequência vista no filme, o que me surpreendeu (falo melhor sobre isso mais a frente...). Porém, é claro que bem mais emocionante, cheio de detalhes e jogos de palavras que nos fazem entrar cada vez mais fundo no universo ora infantil-adulto, ora adulto-infantil retratado por Barrie. 

"Uma menina vale mais do que vinte meninos"

A Sininho continua sendo a fadinha ciumenta apresentada no filme, do jeitinho que imaginei, só que a famosa cena do "eu acredito em fadas, acredito, acredito" não tem todo o destaque que o cinema nos deu. Ainda assim, foi muito de bom ler. Os meninos perdidos são incrivelmente bem construídos, cada um com sua peculiaridade, assim como a personalidade cruel e educada de Jaime Gancho. Todos sempre brilhando em cena, só não tanto quanto Peter e Wendy, claro.

Desde o começo a imagem da mulher, ou melhor, da mãe, ronda tudo que se refere a Peter Pan. Wendy, por contar histórias e ser uma "dama", é vista como a pessoa que faltava na casinha de debaixo da árvore - pois não tinham mulheres na ilha, a não ser por fadas e a índia Lírio Selvagem, que é salva dos piratas. Peter e os meninos perdidos seriam outros com uma "mãe" por perto, e realmente vemos isso acontecer. Passam a ter hora de ir para a cama, roupas costuradas, histórias todos os dias; passaram a ter uma "mãe" e um "pai", o que todos queriam. Menos Peter. Ele passa a gostar de ter Wendy com eles, mas sempre vista como a mãe que não teve, apesar dos vários momentos em que, terrivelmente (trágico, né?), shippamos os dois. Não se esqueçam, Peter não quer crescer...

Quanto ao passado dele, pouco descobrimos. Nenhuma informação dada por Peter parece 100% verdadeira, quando vive se esquecendo das coisas. Pensei que no livro fosse descobrir mais do que no filme (só me vêm os episódios de OUAT na cabeça, com aquela árvore genealógica maluca - quem assistiu sabe do que estou falando), mas ficamos com o fato de que Peter Pan simplesmente não aceita a ideia de abandonar sua juventude, nem que seja para ter uma mãe... ou se casar.

"Nem mesmo uma cena de despedida entre os dois! Nada, por exemplo, como 'vou morrer de saudades de você...'. Se ela não ligava a mínima por estar indo embora, ele ia mostrar a ela, ah, isso ia, que ele também nem se importava. Mas a verdade, evidentemente, é que ele se importava, e muito".

A narrativa é de uma simplicidade que impressiona, não esperava por isso (deixo aqui meus parabéns também à Ana Maria Machado, pela tradução!). É delicioso imaginar as gargalhadas das crianças, suas brincadeiras, as manias de Peter e a sensação de voar entre as nuvens, a mata, passar pelos animais, atravessar buracos de árvores, e sobreviver aos perigos como se morrer fosse de fato "uma grande aventura". Sem contar que temos um narrador que interage com a gente, nos chama até de "olhadores", pois não podemos interferir na história, mas ele parece adorar contá-la e da um toque super especial ao enredo.

Em relação ao filme, a adaptação foi muito fiel e preciso dizer que teve duas cenas que preferi no filme, embora uma do livro tenha me feito grande falta. Para mim aquele ator representou bem a aura do Pan, agora que conheci mais dele, e todo o elenco foi impecável na interpretação da inocência que fica de pano de fundo na trama. Apesar de tratar de assuntos sérios, é com muita leveza que temos contato com eles, não sendo a toa a genialidade atribuída ao autor.

Adoro a forma singela de se dizer que as crianças são uma parte de nós que não devemos abandonar nunca, mas ao mesmo tempo o livro me fez repensar muitas coisas sobre a vida... que pode virar tema de outro post, pois sairia enorme este meu comentário. Vale à pena conhecer a história por trás do livro, a vida de J. M. Barrie, só cuidado com o coração... Peter Pan se torna ainda mais triste do que já é, apesar de aparentar sempre feliz com seu pó de fada.

"—Peter, quem é você?
—Eu sou a juventude, eu sou a alegria!"

Gostou da resenha? Já leu esta ou outra tradução do Pan? Também surtou com aquele filme? Deixe seu comentário e até a próxima!

Minha nota: 







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