terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Primeira vez lendo Tolkien: Árvore e Folha


    Com a faculdade, alguns projetos e vida cada vez mais corrida, fica complicado deixar a leitura em dia, então sair da zona de conforto virou meta para este ano. Tem um tempo que venho programando ler mais, e também incluí na meta a minha vontade de conhecer novos gêneros e autores consagrados - que muitas vezes ouvimos falar, mas nunca tivemos contato. Sempre tem um, não é mesmo? 
    J. R. R. Tolkien é um deles, que sempre tive muita vontade de conhecer, mas não saía da minha bolha. Finalmente li Árvore e Folha, um exemplar importante para quem é fã do autor, e resolvi falar um pouquinho dele aqui para vocês. Vem comigo nessa viagem para um tempo anterior à Terra Média?!


     Como assim, "anterior à Terra Média"? 
    O ensaio Sobre contos de fadas e o conto Folha, de Migalha, foram escritos antes do autor concluir a saga que virou alta referência na literatura mundial quando se fala em fantasia: O senhor dos anéis. Esses dois textos que compõe Árvore e Folha são datados, portanto, de um período entre os anos de 1938/39, segundo Tolkien, na nota introdutória. Sua primeira publicação em livro foi em 1964 (Tree and Leaf).

Sinopse:
Este volume inclui o ensaio Sobre Contos de Fadas e o conto Folha, de Migalha (Leaf by Niggle). Em seu ensaio Sobre contos de fadas, Tolkien discute a natureza dos contos de fadas e da fantasia e resgata o gênero que alguns pretenderam relegar à literatura infantil. Isso é ilustrado de maneira hábil e refinada por Folha, de Migalha, conto fascinante que narra a história do artista, Migalha (Niggle), que "precisa fazer uma longa viagem", e é visto como uma alegoria à vida de Tolkien. Escritas na época em que O Senhor dos Anéis estava tomando forma, essas duas obras mostram a maestria de Tolkien e sua compreensão da arte de subcriação, ou seja, o poder de dar à fantasia a "consistência da realidade".
Por que comecei por este livro? Primeiro: queria um primeiro contato com sua escrita, que andei encontrando quem diz que é bem intensa e até complexa; então eu não poderia começar pelo seu livro mais famoso ou longo. Segundo, partindo da ideia da falta de familiaridade com a escrita de Tolkien, preferi Árvore e Folha pela temática mesmo. Adoro ler sobre contos de fadas, acho muito interessante as ideias que rondam esses escritos e também fiquei curiosa pelo conto fantástico incluído no exemplar.

Começando pelo ensaio, Sobre contos de fadas é algo bem específico. Para quem gosta de estudar sobre e se interessa por origens, definições e referências, é um prato cheio - cheio até a borda. Grande parte do livro é voltada a essa pesquisa do autor, que pode ser vista como uma espécie de base para a criação do universo tolkiano, pois fala dos contos de fadas como Recuperação, Escape e Consolo. Também fala sobre Fantasia, a diferença entre os contos e fábulas, sempre deixando sua impressão e citando autores renomados do gênero. E uma das coisas mais importantes, eu diria, seria sua ideia de "subcriação", dita muitas vezes no texto. 
"[...] os contos de fadas como um todo têm três faces: a Mística, voltada para o sobrenatural; a Mágica, voltada para a natureza; e o Espelho de desdém e compaixão, voltado para o Homem" (p. 25)
Para quem procura um livro de ficção, talvez não se interesse muito pelo ensaio, pois como eu disse ele é longo e bem descritivo, ao estilo Tolkien. Por vezes chega a ser cansativo pela retomada de ideias e muitas referências que possa te deixar deslocado na leitura. Mas num todo é bem interessante e faz com que a gente conheça mais sobre o que o próprio autor acredita, além de ser um documento e tanto para seus fãs, que tem em Sobre contos de fadas características que conversam intimamente com o que seria O senhor dos anéis para Tolkien: "pessoas pequenas contra chances impossíveis" (assista aqui).
"A história dos contos de fadas provavelmente é mais complexa do que a história física da raça humana, e tão complexa quanto a história da linguagem humana" (p.20)
Quando chegamos no conto, é como se estivéssemos diante de um exemplo perfeito de conto de fadas, depois da parte teórica explorada pelo autor. É onde vemos tudo que lemos em ação, uma mistura que representa bem o que gira em torno do livro: a imagem do Reino Encantado como uma Árvore, onde cada conto é uma Folha e criada por um belíssimo propósito de encantar a todos, não só crianças. 
"Não deveriam poupá-las disso (do cozido e os ossos) - a não ser que as poupem da história toda até que sua digestão seja mais resistente" (p.31)
Migalha é um artista que é sempre interrompido, deixando-o incapaz de terminar seu belíssimo quadro antes da grande viagem que se aproxima. Por fim temos uma nova perspectiva sobre a vida do homenzinho, com um final incomum, mas igualmente especial. 

A alegoria estaria por trás dessa vida de artista, que é sempre atormentada com a ansiedade de se terminar seus projetos e que inúmeras vezes aparece frustrado pelas interrupções e possibilidades de fracasso. É aí que leitores lembram de O Silmarillion, obra incompleta de Tolkien, que foi publicado em 1977 a partir do trabalho do filho (Christopher Tolkien) e de Guy Gavriel Kay. John Ronald Reuel Tolkien foi escritor, professor e filólogo britânico, faleceu em setembro de 1973. 
"Os contos de fadas claramente não envolviam primordialmente a possibilidade, mas sim a desejabilidade" (p.39)
O livro, como um todo, me agradou bastante. Gosto muito da capa, a minha edição é com a ilustração colorida, da Editora Martins Fontes, de 2017. A tradução é do Ronald Eduard Kyrmse. 

Como leitora e escritora de fantasia, conhecer mais desse mundo é sempre uma experiência rica. Se lerei outro livro do Tolkien? Não sei, talvez O Hobbit, por preferência. Quem sabe um dia. Pelo menos já posso dizer que dei um passo em direção ao seu universo fantástico, e que saber pelo menos um pouquinho sempre vale a pena. 
"Espera-se que as crianças cresçam e não se transformem em Peter Pans" (p.43)
E você, já leu algo dele? Conta como foi sua experiência! Qual outro (a) autor (a) você é louco (a) para ler? É sempre bom sair da caixinha e conhecer coisas novas, o conhecimento a gente leva com a gente. Espero voltar aqui com outros posts como esse. Até a próxima!


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